Mulher que brigou para tratar câncer morre quatro dias antes de ser atendida

04/09/2019
fonte: G1/Santos

A faxineira Ivone Silva dos Santos, de 58 anos, diagnosticada com câncer de ovário, morreu em Santos, no litoral de São Paulo, após aguardar várias semanas por atendimento médico. Ela morava em Praia Grande e seus familiares chegaram a recorrer à Justiça para que ela recebesse tratamento, mas a vaga só foi disponibilizada 22 dias depois.

Paciente com grave doença vê prazos se esgotarem e não consegue transferência em SP
Ivone estava internada na Santa Casa de Santos desde o dia 23 de agosto e, antes disso, a paciente estava na enfermaria do Hospital Irmã Dulce à espera de uma transferência que custou a ser concedida.

No dia 9 de agosto, o Tribunal de Justiça do Estado determinou que ela fosse transferida a um hospital referência em oncologia – já que o Hospital Irmã Dulce não oferece esse tipo de tratamento – em até cinco dias.

O prazo se esgotou e, no dia 22, os secretários estadual e municipal (Praia Grande) de saúde foram intimados a providenciar a vaga, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00

Só então a decisão foi cumprida e a transferência à Santa Casa de Santos foi disponibilizada no dia seguinte. À época, porém, Ivone estava debilitada e não teve condições de fazer uma biópsia – que determinaria a evolução do câncer.

'Jogo de empurra'

No dia 21 de agosto, o G1 procurou a Secretaria de Saúde do Estado para saber por que a vaga ainda não havia sido disponibilizada. Na ocasião, a secretaria afirmou que o município havia solicitado apenas uma consulta com um médico oncologista, não uma transferência.

O G1 também procurou a Santa Casa de Santos e recebeu a informação de que a consulta estava marcada para o dia 4 de setembro – apesar de a família não ter sido avisada.

Já a Secretaria de Saúde Pública (Sesap) de Praia Grande afirmou que todos os procedimentos condizentes com as necessidades que envolviam o caso estavam sendo desenvolvidos pelos profissionais do Hospital Irmã Dulce.

A Sesap, porém, não se manifestou sobre o motivo de a transferência não ter sido solicitada à central de vagas do Estado nem esclareceu por que os familiares não foram informados sobre a consulta agendada na Santa Casa de Santos.

"Fica um jogando para o outro. Ninguém se responsabiliza, ninguém faz nada e enquanto isso, nesse meio todo, há uma vida. Ela está aos poucos indo embora. É desesperador, eu não sei o que eu faço mais", desabafou, na ocasião, a balconista Silvana Silva dos Santos, filha de Ivone.