Uma adolescente de Praia Grande, de 16 anos, denunciou o padrasto, um policial militar reformado de 51 anos, por estuprá-la entre 2020 e 2022. Após revelar os crimes à mãe, ela escreveu uma carta relatando os abusos aos advogados que a representam. Segundo o texto, o acusado injetava testosterona nela para que ela ficasse com o corpo “mais bonito” para os abusos.
O caso é investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Praia Grande e o acusado permanece solta, já que a prisão preventiva pedida pela delegada foi negada pela Justiça. A adolescente inicia o relato afirmando ser “muito difícil e doloroso” lembrar de sua história, motivo pelo qual decidiu escrever a carta. O padrasto e a mãe da menina estavam juntos há 12 anos e teriam começado a morar na mesma casa em 2021.
A mãe soube dos abusos pouco após o Dia dos Pais deste ano, quando a vítima mostrou áudios que comprometiam o padrasto. A mulher, que também é policial militar, chegou a entrar em luta corporal com o marido. O homem saiu de casa e, agora, deve cumprir uma medida protetiva de afastamento.
A carta
A vítima registrou o caso na DDM na companhia da mãe. Segundo a denúncia, a violência teria começado em 2021, quando o homem a beijou e colocou as mãos na genitália dela. Eles voltavam de um passeio que haviam feito em Peruíbe.
“Chegando na Praia Grande ele levou os filhos dele em casa e foi me levar na minha casa, e no carro ele disse que eu nunca podia falar aquilo para ninguém porque é uma coisa super proibida. E mesmo se eu falasse, ninguém ia acreditar em mim, e que nunca ia dar em nada porque ele é policial militar”, diz um trecho da carta.
Em outro trecho, a menina contou que o acusado a puxava pelo braço até o quarto dele quando não havia ninguém em casa. “Aconteceu várias vezes e todas sem o uso de preservativo. Sempre doía muito, mas ele falava que era porque eu sou nova [...] e com o tempo ia me acostumar”.
Primeira página da carta escrita pela adolescente, que acabou de completar 16 anos
Segundo o relato, o homem justificava os abusos dizendo que, se aconteceu, foi porque “Deus permitiu”. Ele teria dito que terminaria com a mãe da adolescente para ficar com ela assim que ela acabasse o Ensino Médio.
“Ele comentou muitas vezes que eu tinha mais corpo que muitas mulheres, e por eu menstruar e ter menos testosterona que o homem, eu não ia conseguir resultado nenhum treinando, só tomando alguma coisa para evoluir nos treinos”, escreveu.
No meio do ano de 2022, o acusado teria injetado testosterona na adolescente pela primeira vez. Ela disse que não queria, mas ele afirmava que, se ela parasse, ficaria com o corpo “cheio de estrias, celulites, espinhas e queda de cabelo”. Ao longo dos anos de abusos, o homem ainda teria sido possessivo e a ameaçado caso contasse algo a alguém.
Busca por Justiça
Conforme o relato, a vítima iniciou o Ensino Médio em 2023 e, no começo, era levada e buscada pelo padrasto. Ela pediu para a mãe trocá-la de colégio e conseguiu evitar o contato por um tempo. Em junho, o homem teria feito novas investidas, o que a levou a tomar uma atitude.
A adolescente explicou que decidiu gravar os áudios para ter provas contra o padrasto. Conforme a carta, ele dizia que a mãe a expulsaria de casa, acabaria se matando ou matando os dois.
Na carta, a menina diz que tomou coragem para captar as gravações no dia 17 de junho. “Demorei um pouco para contar porque eu não sabia o que ele seria capaz de fazer se soubesse que eu falei e tinha provas”, escreveu.
Os advogados Octavio Rolim e Patrícia Brito representam a adolescente. Em entrevista para A Tribuna, a profissional explica que a delegada pediu a prisão temporária do PM aposentado, mas ele foi negado. A menina já tem uma medida protetiva contra ele, mas segue com medo.
“No caso deles, não houve flagrante. Embora esteja constatado que houve, até mesmo porque teve um áudio, a delegada pediu a prisão temporária, mas o juiz negou. Ela tinha o laudo, mas não a carta. Hoje, ela está com medida protetiva. A gente tem que demonstrar, para o juiz poder deferir, que ele é um risco mesmo solto”, diz a advogada.
O que diz o acusado?
Em entrevista para a TV Tribuna, a delegada Lyvia Bonella, da DDM, diz que o PM reformado nega as acusações.
“Ele tentou inverter a situação como se a adolescente que estivesse interessada nele, que tivesse investido, abraçado, beijado ele. Mas, só pelo fato de ele ter admitido que ele retribuiu o beijo, já teria sido configurado o crime”, disse a delegada.
Em nota, o advogado Christiano Marcos defende que “as acusações propostas pela suposta vítima e sua genitora são inverídicas, pois não passam de uma armação”. Diz ainda que o cliente é inocente e provará sua inocência no decorrer da instrução criminal.
A delegada destaca que os investigadores já detêm o laudo do Instituto Médico Legal (IML), a carta e os áudios gravados pela vítima.