Em Praia Grande, espera para exame na rede pública pode levar quase 4 anos

Atualizado em 04/08/2018 - 19:26
fonte: A Tribuna
Moradores de Praia Grande podem levar quase quatro anos para fazer exames na rede pública, segundo levantamento da Secretaria Municipal de Saúde Pública, realizado a pedido da Reportagem via Lei de Acesso à Informação.

Os dados oficiais referentes a especialidades apontam que a maioria das consultas tem tempo de espera menor do que 30 dias. Os exames são o principal problema.

O procedimento mais demorado é o potencial evocado auditivo do tronco encefálico, conhecido como Bera, destinado à avaliação das vias auditivas. São necessários, em média, três anos e dez meses de espera.

Em 11 de julho, quando a Secretaria passou os primeiros dados à Reportagem, o Bera tinha 150 pacientes na fila. Contabilizando os 55 exames da rede pública municipal, eram 58.554 munícipes esperando na ocasião - com a ressalva de que pessoas podem estar cadastradas para mais de um procedimento.

Os exames pré-operatórios, que são os mais demandados na Cidade, com cerca de 15 mil pacientes na fila, possuem cinco meses de espera média.

Para ultrassonografia, é preciso aguardar um ano e quatro meses, em média. Em julho, eram aproximadamente 13 mil pessoas na fila.

Outros exames conhecidos também têm alto tempo médio de espera: um ano e cinco meses para procedimentos oftalmológicos; um ano e dois meses para endoscopia; e cinco meses para radiografia.

Moradora da Aviação, a autônoma Vera Lucia Reis do Lago, de 60 anos, aguarda desde novembro do ano passado por uma colonoscopia.

Ela sofre com hemorroida e teve de pagar outro exame. Contudo, a colonoscopia continua sendo necessária para realização de cirurgia. “Eu estou esperando porque no particular é muito caro”.

Moradora do Tude Bastos, a auxiliar administrativa Yasmine Luize Pizzolio Gonçalves, de 27 anos, espera há mais de 12 meses por ultrassonografia transvaginal.

O exame havia sido marcado para a última segunda-feira, mas não pôde ser realizado porque a jovem estava menstruada. Ela agora terá de amargar outro período de espera. “É horrível, eu fico com medo de ter mioma”.

O caso da dona de casa Eliette Rodrigues Silva Casado, de 57 anos, moradora da Aviação, exemplifica o absurdo que é a demora na Cidade. “Eu passei pelo vascular em junho de 2017. Como a coisa é delicada, para me garantir eu procurei a rede pública de São Paulo, porque morava lá. Fui chamada para a consulta, fiz os exames e retornei ao médico. Graças a Deus tá tudo em ordem. Já aqui faz um ano do pedido e ainda não me chamaram para o exame”.

Ela não irá cancelar a requisição. “Já fica para o ano que vem”, ironiza. “Se eu tivesse algo grave, teria morrido”.

O levantamento obtido pela Reportagem indica que a oferta de serviços em Praia Grande não é capaz de atender a demanda. Em abril, maio e junho deste ano, foram solicitados 50.041 exames. Contudo, no mesmo período, 37.672 procedimentos foram realizados na Cidade.

O secretário-adjunto de Saúde Pública de Praia Grande, Luiz Marono, garantiu que a Prefeitura trabalha pra elevar a oferta de exames por meio de parcerias com empresas e reivindicação de mais vagas ao Governo do Estado.

Ele explicou que os exames de alta complexidade são de responsabilidade da Secretaria de Estado da Saúde, outros são realizados em unidades municipais e há uma rede particular credenciada pra atender os moradores da Cidade.

Porém, da lista de 55 exames obtida pela Reportagem, 38 são da rede municipal de saúde. Dentre os dez mais demorados, oito são de responsabilidade da gestão Alberto Mourão - inclusive o de maior tempo de espera, o Bera.

Segundo Luiz, a alternativa é contratar empresas para realizá-los. Só que isso está difícil. “Muitas vezes há empresas que poderiam fazer o exame, mas elas não concordam com o valor da tabela SUS, não fazem o credenciamento e ficamos sem oferta”.

Luiz disse que a Prefeitura negocia com o Governo do Estado “pra aumentar o número de vagas” dos procedimentos de alta complexidade.

O secretário atribuiu o atual tempo de espera em parte à maior procura pela rede pública devido à diminuição no uso de planos de saúde. “Procuramos ampliar a oferta de alguns exames para termos um ponto de equilíbrio”.

Já a Secretária de Estado da Saúde diz que os três Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs) auxiliam a região com exames como ultrassons, raios X, tomografia, mamografia, radiografia e endoscopia, entre outros.

Nos últimos oitos anos, foram realizados nos AMEs de Santos e Praia Grande 488,8 mil exames. No período, a oferta de exames subiu 64,5%. Só em 2017, foram 75,4 mil procedimentos.

Há, ainda, o ambulatório do Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, que faz, em média, 11 mil exames/mês. E, desde maio, o AME de São Vicente ajuda na parada, com mais serviços à população. Por fim, o Estado aponta um pepino: o AME de Praia Grande tem índice de faltas de 20,3% nas primeiras consultas.

Dez exames mais demorados
  1. Potencial evocado auditivo do tronco encefálico (Bera): 3 anos e 10 meses
  2. Polissonografia: 2 anos e 7 meses
  3. Endoscopia em ambiente hospitalar: 2 anos e 6 meses
  4. Eletroneuromiografia: 2 anos e 6 meses
  5. Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica: 2 anos e 3 meses
  6. Emissões otoacústicas evocadas: 2 anos e 2 meses
  7. Radiografia contrastada: 1 ano e 10 meses
  8. Exames oftalmológicos: 1 ano e 5 meses
  9. Ultrassonografia: 1 ano e 4 meses
  10. Angiotomografia: 1 ano e 4 meses

Dez exames mais rápidos
  1. Mamografia: menos de 1 mês
  2. Ultrassonografia próstata via transretal: menos de 1 mês
  3. Videolaringoscopia: menos de 1 mês
  4. Toxina botulínica: 1 mês
  5. Ultrassonografia obstétrica: 1 mês
  6. Teste de tolerância à lactose: 1 mês
  7. Pet scan: 1 mês
  8. Colposcopia: 2 meses
  9. Ecocardiografia transesofágica: 2 meses
  10. Espermograma: 2 meses
  11. Espirometria: 2 meses
  12. Teste de processamento auditivo: 2 meses
Outros exames importantes
  1. Colonoscopia: 1 ano e 2 meses
  2. Endoscopia: 1 ano e 2 meses
  3. Exames cardiológicos: 11 meses
  4. Ultrassonografia doppler: 10 meses
  5. Cintilografia: 9 meses
  6. Ultrassonografia transvaginal: 8 meses
  7. Tomografia com sedação: 7 meses
  8. Densitometria óssea: 6 meses
  9. Exames pré-operatório: 5 meses
  10. Radiografia: 5 meses
  11. Tomografia: 4 meses
A Reportagem desconsiderou o teste de estímulo (crescimento), que tem 6 anos e 9 meses de espera, como o exame mais demorado porque só havia um paciente na fila.

Fonte: Secretaria da Saúde Pública de Praia Grande, via Lei de Acesso à Informação.